O artigo discorre sobre o paradoxo da riqueza do Estado do Maranhão, onde a diversidade cultural e a extensão territorial do Estado se confunde com a miséria e os piores indicadores sociais.
O MARANHÃO DE VERDADE
POR FLÁVIO DINO*
Flávio Dino, presidente da EMBRATUR |
Temos um extenso território cortado por ferrovias e rodovias. Diferentemente de outros Estados do Nordeste, há água abundante em rios e lagos. Nosso litoral é o segundo maior do Brasil, propício à pesca em grande escala.
O complexo portuário maranhense está localizado próximo aos principais mercados consumidores do mundo, o que aumenta a sua competitividade. A agricultura e a pecuária são intensamente exploradas em nossas terras.
Nosso potencial para o turismo é reconhecido por todos, por exemplo com a beleza única dos Lençóis Maranhenses. Somos a terra de Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Nauro Machado e Zeca Baleiro, do bumba meu boi e de centenas de outros valiosos grupos culturais.
No entanto, o Maranhão frequenta assiduamente as piores posições em todos os rankings de medição da qualidade de vida. Os maranhenses são atendidos pelo menor número de médicos e de policiais por habitante do país.
Entre 2009 e 2013, o Maranhão seguiu o caminho inverso do Brasil no
quesito educação. O número de analfabetos cresceu no Estado, passando
de 19% dos maiores de 15 anos para 20,8% nessa faixa etária.
Essas contradições entre o potencial riquíssimo e a pobreza
abundante é o triste retrato do Maranhão de verdade. Após 50 anos de
mando, os que estão no topo desse regime estão desorientados e
descolados da realidade.
Nada mais revelador do que o governo do Estado comprar toneladas de lagostas, camarões e caviar, complementadas por champanhes e uísques importados, para o consumo dos altos escalões do poder enquanto bárbaras cenas nos presídios maranhenses são veiculadas pelo mundo inteiro e as famílias ainda choram por seus parentes.
É fundamental compreender que há direta conexão entre os problemas sociais e a configuração da política maranhense. O patrimonialismo praticado no Maranhão é o mais exacerbado da história brasileira.
Isso faz com que os recursos públicos sejam direcionados visando, acima de tudo, à acumulação privada de bens, e essa é a causa principal para que tantas riquezas não se traduzam em serviços públicos minimamente razoáveis.
Essa terrível crise do sistema penitenciário mostra que é urgente
virar essa página em nosso Estado, assegurando a igualdade de todos
perante a lei, o primado dos direitos fundamentais e a honesta aplicação
do dinheiro público. Os valores da República precisam chegar ao
Maranhão para que o nosso povo seja rico de verdade. Essa é uma causa
que interessa a todo o Brasil.
FLÁVIO DINO, 45, ex-deputado federal (PCdoB-MA) e ex-juiz federal, é presidente da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo)
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