Por Josias de Sousa, com edição
Presídios lotados |
Não bastasse a onda de violência em São Luís,
motivada pela crise no sistema prisional onde os detentos ordenam ataques de
dentro das prisões, os servidores públicos do sistema penitenciário do Maranhão
ameaçam entrar em greve. O Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Maranhão
(Sindspem) convocou para a próxima quarta-feira (22) uma assembleia
geral. A entidade discutirá a hipótese de convocar
uma greve geral dos agentes penitenciários do Estado. Deve-se a
providência à revolta da categoria com uma portaria editada pelo governo
de Roseana Sarney (MA).
A portaria leva o
número 001/2014, que está datada de 13 de janeiro, foi baixada pela
Secretaria da Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão (Sejap). Assina o documento o superintendente de Controle e Execuções Penais,
Ronald da Silva Dias. O texto prevê que a segurança dos presídios
maranhenses passará a ser exercida apenas por monitores terceirizados
lotados numa unidade chamada Grupo Especial de Operações Penitenciárias
(Geop).
Quanto aos agentes
penitenciários do Estado, serão retirados de Pedrinhas e passarão a
executar tarefas como a escolta de presos convocados para audiências
judiciais em São Luís e cidades do interior, além da custódia de
detentos recolhidos em hospitais. O sindicato alega que os monitores
terceirizados não têm preparo para restabelecer a ordem e a segurança no
xadrez.
Governadora do Maranhão, Roseana Sarney |
São duas as
empresas privadas que prestam serviços nas cadeias do Maranhão: a VTI,
de Fortaleza, e a maranhense Atlântica Segurança. Juntas, receberam do
governo estadual no ano passado R$ 71 milhões. Fornecem mão de obra
barata. Seus monitores recebem remuneração mensal de R$ 900. A cifra
corresponde a menos de um terço do contracheque dos agentes
penitenciários do quadro estadual.
Uma das empresas, a
Atlântica, pertence a Luís Cantanhede Fernandes. Vem a ser um velho
amigo de Jorge Murad, o marido da governadora. Tornou-se um personagem
nacional em 2002. Então candidata ao Planalto pelo ex-PFL, Roseana viu
suas pretensões predidenciais derreterem depois que, numa batida
realizada na empresa Lunus, consultoria que ela mantinha em sociedade
com Murad, a Polícia Federal apreendeu R$ 1,3 milhão. Para justificar a
aparição do dinheiro vivo, Roseana assinou um contrato de suposto
empréstimo com Luís Cantanhede.
Um detalhe
potencializa a revolta da corporação dos agentes penitenciários. No
mesmo dia em que foi assinada a portaria que os retira das cadeias, 13
de janeiro, o juiz Manoel Matos de Araújo, da Vara de Interesses Difusos
e Coletivos da Comarca de São Luís, ordenou ao
governo maranhense a adoção de duas providências: 1) a reforma de
Pedrinhas e a construção de novos presídios num prazo de 60 dias. 2) a
nomeação em 30 dias de todos os candidatos aprovados em concurso de
agente penitenciário.
Nesta sexta-feira
(17), em visita à capital maranhense, o presidente da Federação Sindical
Nacional dos Servidores Penitenciários, Fernando Ferreira da
Anunciação,ecoou os protestos dos colegas maranhenses. Anunciou que
enviará ao Maranhão um advogado para assessorar o sindicato local na
formulação de ações judicias contra autoridades que acusam os agentes
penitenciários de negligência.
Fernando Ferreira
informou também que a federação que dirige vai protocolocar no Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) uma petição pedindo providências contra a nova
portaria do governo maranhense e contra a omissão do Poder Judiciário
na fiscalização do cumprimento da Lei de Execuções Penais nas cadeias do
Maranhão. Como se vê, a crise está longe de ser contornada.
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